Só pra dar um “oi”

Julho, 2019: não tenho muito pra contar assim, por escrito. Posso te contar na mesa de um bar, preferivelmente no melhor estilo Brasil, sabe né… com copo americano, garrafa de cerveja na térmica, talvez uns amendoin Mendorato ou “Torcida” pra salgar a boca. Os últimos meses têm sido de imersão, mão na massa, dúvidas, certezas, e muita ação.

Aqui nos EUA, existe uma expressão que descreve muito bem pessoas que, assim como eu, incorporam muitas funções. A expressão fala sobre “wear too many hats”, ou em tradução livre “usar vários chapeus” para exemplificar a forma como mudamos o foco da ação: se uma hora estamos planejando o jantar, na outra estamos fazendo planilha, e na seguinte produzindo conteúdo de redes sociais.

É tão exaustivo.

Mas pensei que valia a pena compartilhar com você, que lê e acompanha o eSTRANGERa. Porque as vezes parece que a gente é mulher maravilha, mas lá no fundo não é bem assim.

PLANOS MUDAM

Em Fevereiro de 2018 eu comecei uma jornada pessoal com o eSTRANGERa, e o que eu queria era produzir conteúdo para mulheres que, assim como eu, assumiram uma nova vida em um país diferente daquele que crescemos. Acontece que conforme o plano foi tomando forma, percebi que não queria que esse tipo de conteúdo fosse um negócio, porque são experiências que eu gosto de trocar e compartilhar… gratuitamente.

Escrever aqui, ou me encontrar com alguém que acabou de se mudar de país e precisa de uma orientação, uma perspectiva, ou um plano de navegação em terras gringas não me soava algo para colocar à venda.

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Ao mesmo tempo que eu entendia a função desse blog na minha vida; fui investindo em atualização profissional e, é claro, pesquisa. Enquanto, também, tocava com o Barret (meu marido) um outro blog e canal de YouTube chamado BRAMMOTO, onde o foco é motocicleta.

Pra encurtar a história: nos sete meses que seguiram percebi que o BRAMMOTO seria meu caminho empresarial, enquanto o eSTRANGERa seria meu canto pessoal, solto pelo mundo pra me conectar com pessoas como eu.

12 MESES

Julho de 2018 foi o mês “do vira”. E sabe… olhando pra tras, tem tudo a ver com pessoas. Com as incríveis pessoas que cruzaram a minha vida, de uma forma ou de outra, de lá pra cá.

Inspiração. Pontapé na bunda. Meta. 

Começou com a Mayara Castro. Daí eu conheci a Jussara Porter, que me introduziu pra um monte de brasileiras aqui pertinho de mim e me fez sentir “em casa” novamente. Fiz o curso do Bruno Peixoto, onde conheci o Marcelo Barros (ainda não pessoalmente), que me indicou duas jornalistas maravilhosas pra seguir no Brasil a Eliana Malizia e a Karina Simões. Enquanto pesquisava mercado, cruzei com uma marca chamada Dark.Rose, da Steph Rosa, uma moça arretada e super determinada. Enquanto isso: aqui nos EUA fui fazer classe de Pequenos Negócios, entender sobre impostos, trading, venda, atacado e varejo. Motos. Motos. Motos. Daí veio a Use.Corse e o Fernando lançando calças no Brasil. Veio a Nayara e o Triska, do Nós de Harley; e outras pessoas maravilhosas do mundo em duas rodas no Brasa e aqui.

Momento full circle, Maio 2019: Stephany Rosa, eu, e a Eliana Malizia. Na Rua da Fraternidade, em São Paulo. O encontro durou 30 minutos, foi tudo de última hora, e coisa que só mesmo o Universo pra explicar.

Isso sem contar as pessoas que já eram parte da minha vida e só se fizeram ainda mais presente.

E dai tem os livros que a gente lê. You are a Badass, da Jen Sincero, passou e chacoalhou minha vida. E olha que, até então, eu era super contra livros de auto-ajuda (nem sei se esse qualifica na categoria, mas tá valendo… me ajudou).

Vai virando igual roda gigante. A vida é ciclica… mas isso eu já falei né.

Engraçado como de um ano pra cá não consigo mais usar sandálias. Deve ser coisa de motociclista. Sinto que se estiver de sandália não posso pilotar. Ohhh well, not a real problem.

Sigo.

E AGORA

Continuo. O BRAMMOTO é uma marca de estilo de vida. Super pretensiosa. Assim como eu, que de uma vez por todas assumi minhas ambições. Por que não?

O BRAMMOTO TRUNK SHOW é uma loja móvel que viaja pelo condado de Jefferson em NYS, levando moda que combina estilo e proteção para as mulheres motociclistas.

No BRAMMOTO reformamos motos, passamos tempo juntos, planejamos passeios, rotas, e – principalmente – o orçamento. Estamos criando um negócio, com um pequeno investimento, fazendo o dinheiro esticar o máximo que der, sem termos de nos pendurar com bancos.

Encaixamos nosso filho em tudo que dá.

Através do BRAMMOTO encontrei um monte de mulher que pensa como eu, que sente como eu, e que gosta de moda e graxa tanto quanto eu. Então o “Trunk Show” para dividirmos ideias e estilo, e adicionar proteção à nossa pele.

O BRAMMOTO é ponte. Uma nova forma de olhar para a vida e para o papel que nossos hobbies têm no dia-a-dia.

SOBRE OS CHAPÉUS

As vezes eu uso bandana. Mas de modo geral você me vê de coque, boné, gorro, ou capacete.

Até. 🙂

Cidadã da terra

Em Junho serão dez anos que sai do Brasil. Enfim, agora eu sou também Americana. UAU. Essa parte da minha exploração de vida foi território desconhecido, e putz…. foi dificil de assimilar.

Entenda, para mim, essa questão de outra cidadania era mais profunda que estudar, passar na prova, ir ali e fazer um juramento. Sou uma pessoa leal, e embora esteja triste e desapontada com os rumos que o Brasil vem tomando – mais sob o ponto de vista social, porque politicamente eu desisti há 12 anos -, tenho orgulho e um amor tremendo por minha terra verde e amarela. Dai a colocar outro território dentro dentro desse pacote. UAU… foi mentalmente hardcore. 

Mas quer saber: eu fui lá, eu fiz. Sozinha.

E tudo isso, enquanto passava por aquele momento super clichê na vida de uma stay-at-home mãe, que acabou de fazer 40 anos, e que optou super pela vida doméstica. Mas… que agora quer novos propósitos de vida, uma nova carreira talvez, e não sabe bem o que, onde, como, e quando fazer.

Ha! É “sarna pra se coçar” que chama, né? 

Felizmente, quando eu comecei com a “sarna” ou com essa vontade de mudar, que é bem pessoal, dois elementos já me eram bem definidos: por que e por quem a mudança. Fato é: Brasileira ou Americana, meu coração encontrou seu lugar, num canto enfiado numa floresta, próximo do Rio que deságua no mar. Aqui faz frio igual o Alaska, tem pica-pau e urso igual do desenho, ônibus escolar amarelo, Amish, Maple Syrup, foi inspiração para clássicos do Bob Dylan, e tem um espetáculo da natureza chamado Outono.  

Demorou um pouco pra eu entender que meu território desconhecido, na real, estava mais relacionado com um re-posicionamento pessoal e profissional, do que com o fato de passar por todo o processo de naturalização.  Foi como dizer “adeus” para uma parte de mim, para dar espaço ao novo, à nova. Foi como perder para ganhar. My personal Waterloo (ai ai ai… ABBA songs). 

Explico.

Sabe lá no começo, quando eu te falei que tenho um estranho hábito de começar de tras pra frente? Então… Minha história com esse pais começa muito lá atras, antes mesmo de eu saber quem eu era. Tem relação com meu amor por cultura pop, por cinema, por televisão, por rock n’roll, pela arte do storytelling e a revista Rolling Stones; minha admiração por pessoas como Walt Disney, o Hugh Hefner (guilty), a Oprah e a Ellen DeGeneres; a Nora Ephron (suas histórias e personagens); e até minha frustração por não vestir bem um jeans Lewis 501.  

Minha história com os EUA vem da minha admiração por seus preceitos de liberdade e igualdade (mesmo sabendo que a, as vezes, realidade não é bem assim). 

E ai como se não bastasse isso, foi aqui que aprendi pilotar moto, e nasceu aqui aquele com quem minha alma se aquietou. Coisa de amor ninguem explica. Tenho quatro amigas brasileiras aqui. Regulamos em idade e consequentemente geração. Somos felizes consequencias de uma juventude vivida durante os anos 90. Todas nós nesta terra inóspita, de duros invernos. Aqui porque nos apaixonamos por um garoto do North Country. Um amor desses pelo qual vale a pena jurar lealdade.

Então eu deixei meu cabelo crescer. Hibernei com a floresta, e fui entendendo a troca de estações: as cores do Outuno, o silêncio do Inverno, a renovação da Primavera, e a liberdade do Verão. Reconheço os ciclos. Eles se repetem, eles se renovam….

“Cantoflorvivência”

(Tempo, de Orides Fontela).

Esse não foi, e nem é, um caminho fácil. Escolhas tiveram de ser feitas, e consequencias vieram com elas (boas e ruins). Porque a vida é assim mesmo, as vezes a chuva estraga a festa. Mas a gente precisa dela, no matter what.

A vida imita a arte, porque a arte é feita a partir da vida. Não me iludo acreditando que já conheço o fim, o que eu faço é imaginar e criar meu caminho. Se minha alma se aquietou, minha criatividade ganhou o estímulo do novo. Na floresta, aprendi ouvir o silêncio – o “universofluxo”.

 Quero comunidade, quero amor ao próximo, respeito e igualdade. 
Vou com foco, força, e fé.
Você que acompanha o eSTRANGERa.com deixa aqui um comentário. Já pensou em mudar de país? Se sim, por que? O que mais te assusta ao encarar a possibilidade de vida nova? 

#trabalharemcasa: Um update da situação

Agosto.

Vou te contar logo de cara que me sinto uma trapaça. Que nos últimos meses tive dois momentos de pânico. Que sou uma mistura imperfeita entre motivação e procrastinação. Que meu nível de empatia chega ser tão alto, que ao invés de ajudar me atrapalha. Que eu bloqueio na hora de falar “não”. E que, embora meus planos estejam super atrasados e eu sinta o peso de uma culpa invisível nos ombros, aqui estou pra respirar fundo e te dizer: está tudo bem. 

Essa aí acima é a Gabi eSTRANGERa, Jornalista metida a Socióloga, um liquidificador de opiniões, conectada aos hemisférios Sul e Norte das Américas. Com ela, convivo eu, a Gabi, Dona-de-Casa assumida, reinventando a carreira enquanto, literalmente, administra a família do meio da Floresta em uma terra de “very” diferente costumes. 

Sendo assim, pra você que me acompanha, aqui vai um update do Verão: 

  • meu Desafio mensal pra te mostrar as Estações do Ano sob a minha perspectiva ainda não Rolou (mesmo assim estou colecionando fotos pro mesmo).
  • tenho uma dúzia de material gravado pra editar no Brammoto. Quando conseguirei?… saberá Gzus. 
  • também tenho uma lista de pautas pra pesquisar e escrever; e duas entrevistas que já rolaram e precisam ser escritas;
  • Prioridades né? … 😂 .. sim, eu priorizei meu “profissional”, até que …
veio a vida atropelando.

 … a Primavera e o Verão, propícios para longos passeios de moto, cortador de grama, barco, SUP, e idas à sorveteria; uma crise na saúde do Mr.; Férias Escolares (em Nárnia: 3 meses com o filho em casa. Chupa essa manga, você com filho pequeno no Brasa que conta os dias pras férias de 4 semanas acabarem).

Enfim, prioridades profissionais foram bombardeadas pela vida e outros compromissos para os quais eu não soube dizer NÃO. 

Eu sou uma Escritora sem ISBN. Uma Jornalista que só assinou Press Releases. Uma Fotógrafa frustrada. Um baú de experiências e contos profissionais que, believe me, irão te surpreender. Meu nível de confusão (mental) é tanto que, para você ter uma idéia, assinei “Creative Mind” (mente criativa) em meu último cartão profissional. 

Vim aqui de peito aberto te passar a real.

Você me deu um pouco do seu tempo, lendo o que eu escrevi, colocando um “jóinha” ou um “coraçãozinho” no meu post. Longe de mim te fazer pensar que tudo é paraíso na vida de quem escolhe “Trabalhar em Casa”. Fatos: os desafios são muitos. A começar pelo retorno financeiro, no meu caso ainda inexistente; e tem as interferências e tentações do lar (ora boas e oras ruins), por todos os cantos.

Daí que mesmo diante de toda essa bagunça, posso dizer:

está tudo bem! 

Estou em minha vida onde eu quis e quero estar. Acredito que só cheguei até aqui porque um dia entendi que Tudo não dá; que é “ok” abrir mão de um lado para receber de outros; decifrei o código dos pesos e medidas. Com fé, força de vontade, e coração do bem, tudo se encaixa e acontece na hora certa. 

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Eram quatro folhas. Continuam quatro corações.